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sábado, 31 de julho de 2010

9 mentiras sobre o fim do mundo!

A revista Conhecer de Agosto selecionou as mais conhecidas teorias sobre o apocalipse e explicou por que não passam de lendas. Confira!

O mundo vai acabar. É sério. Vai acabar mesmo. Só não vai ser em 2012. Mas dá para antecipar uma data aproximada: o planeta Terra será destruído lá pelo ano 6.999.997.990, ou, arredondando a conta, daqui a uns 7 bilhões de anos.
Será mais ou menos por essa época que o Sol se tornará uma estrela gigante vermelha tão inchada que seu diâmetro vai ultrapassar a órbita da Terra. O planeta será engolfado pela atmosfera solar e completamente pulverizado no processo.
A vida na Terra, entretanto, terá acabado muito antes disso. Em coisa de 1 bilhão de anos, o Sol já estará bem mais quente do que agora, evaporando totalmente os oceanos terrestres e transformando nosso planeta num deserto inabitável.
Isso não é especulação; são fatos científicos. Mostram que não deveria ser tabu ou coisa de maluco falar sobre o fim do mundo. Agora, se o assunto são aqueles sujeitos que andam por aí com plaquinhas com os dizeres "O fim está próximo", aí o negócio muda de figura.
E olha que os caras são criativos, hein? Ao longo desta reportagem, você vai descobrir nove lorotas contadas sobre o fim do mundo, desde profecias da Antiguidade até a hipótese de a Terra se chocar com planetas errantes, passando por alinhamentos galácticos. E poderá ficar tranquilo ao saber que nenhuma dessas proposições faz sentido.
Disso tudo, entretanto, uma coisa é certa: o ser humano parece ter uma fixação ancestral pelo fim do mundo. Em todo século ou milênio que se encerra, essa história reaparece. Em algumas datas específicas a fantasia é requentada, como agora, para 2012. Parece que a humanidade tem um desejo oculto, inconsciente, de autodestruição. O que, como você verá ao final, pode não estar mesmo muito longe da verdade...

1. OS MAIAS PREVIRAM O FIM DO MUNDO EM 2012?
Calendário maia: apenas mais um jeito de contar o tempo

A civilização maia esteve entre os povos mais sofisticados da América pré-colombiana. Seu domínio se estendeu por séculos, antes de ser encerrado pela colonização europeia. E uma de suas tecnologias mais sofisticadas era o calendário.
Como todo artefato desse tipo, ele se presta, em primeiro lugar, a marcar ciclos importantes, como a hora de plantar e de colher, ou a aparição de determinados astros no céu. Para esse tipo de referência, um calendário de 365 é o mais indicado, porque reflete de forma mais acurada o movimento da Terra ao redor do Sol. Os maias possuíam um desses, mas marcavam datas específicas e registros históricos por outro calendário.
Para essa solução alternativa, adotaram um ano (tun) de 360 dias, dividido em 18 meses (winal) de 20 dias cada. Mas, diferentemente do que fazemos, eles não consideram o ano a unidade essencial de data. Ainda tinham o k'atun (que correspondia a 20 tun) e o b'a'ktun (que correspondia a 20 k'atun). Pois bem: o dia 21 de dezembro de 2012, segundo a maior parte dos especialistas, marca o final do b'a'ktun de número 13 na contagem do calendário maia.
Depois disso, o que acontece? Começa o b'a'ktun 14. Só isso. "Em nenhum lugar se diz que o ciclo que estamos vivendo seria o último", afirma Eduardo Natalino dos Santos, professor de história da América pré-colombiana da Universidade de São Paulo (USP).
Ou seja, a ideia de que o mundo vai acabar em 2012 pelo calendário maia é a mesma que levou alguns a pensar que o ano 2000, pela contagem gregoriana, marcaria o final dos tempos. É o fenômeno do número redondo, versão pré-colombiana.

2. OS TERREMOTOS RECENTES SÃO SINAIS DO APOCALIPSE?
Embora sejam sempre imprevisíveis, os terremotos não estão ficando mais devastadores com o passar dos anos

É difícil não se assustar com as notícias de terremotos. A impressão que dá é que, a cada dia, ocorrem mais desses fenômenos, e seu efeito fica mais devastador a cada nova ocorrência.
Mas é só impressão mesmo, segundo os sismólogos. "Os terremotos são aleatórios. Não têm hora nem época certas para acontecer", explica Marcelo Assumpção, sismólogo da USP. "Há períodos em que, por coincidência, ocorrem com mais frequência e outros em que estão mais espaçados, mas trata-se de uma flutuação estatística. A longo prazo, o número de terremotos não está nem aumentando, nem diminuindo."
Em linhas gerais, os cientistas entendem o que ocasiona os terremotos. São processos de acomodação da crosta terrestre. As placas tectônicas (que carregam consigo os continentes) estão em constante movimento, e o atrito entre elas produz os tremores. Por isso há regiões do globo muito mais sujeitas a grandes terremotos que outras - são aquelas localizadas sobre áreas de divisa entre duas ou mais placas tectônicas.
O Brasil, felizmente, está bem no meio de uma placa, de forma que os tremores possíveis por aqui são sempre de menor escala. Mas lugares como o Chile, por exemplo, estão sempre sujeitos a violentos terremotos. O que a ciência não consegue (e possivelmente nunca conseguirá) prever é o momento exato em que ocorrerá um abalo sísmico. Isso porque a previsão exigiria a instalação de inúmeros equipamentos de medição nas profundezas da crosta terrestre, o que é tecnicamente inviável.

3. UMA MUDANÇA DO POLO MAGNÉTICO PODE CAUSAR ALTERAÇÕES DEVASTADORAS NA TERRA?
O magnetismo que protege a superfície do planeta de radiação nociva emanada do Sol está aí para ficar

Todo mundo sabe que as bússolas sempre apontam para o norte, certo? Pois é, mas nem sempre foi assim. A cada 400 mil anos, em média, o polo magnético terrestre se inverte. Estima-se que uma nova inversão (sim, as bússolas passarão a apontar para o sul!) pode acontecer em breve (isso em escala de tempo geológica, ou seja, não quer dizer que estaremos aqui para ver).
Mas os registros geológicos mostram que essa mudança não causa dano algum à biosfera. (Tá, para não dizer que ninguém sente nada, talvez algumas aves que usam um "sexto sentido" capaz de sentir o polo magnético para definir a direção de sua migração se sintam um pouco perdidas, ao menos no início.)
Esse fenômeno acontece pela dinâmica produzida no interior da Terra, sobretudo na interação do manto pastoso com o núcleo de ferro do planeta. Essa movimentação interna produz um efeito similar ao de um dínamo, que cria a polarização magnética norte-sul. Vez por outra, há uma inversão.
A sugestão de que a terra poderia mudar sua rotação, ou girar ao contrário, por causa da mudança de polo magnético não faz sentido nenhum. Até a Nasa, preocupada com a boataria a respeito de 2012, elaborou um questionário de perguntas e respostas em que essa hipótese é desmentida por completo. "Uma inversão da rotação da Terra é impossível", diz categoricamente a agência espacial americana. "Há pequenos movimentos dos continentes (por exemplo, a Antártida já esteve perto do equador há centenas de milhões de anos), mas eles são irrelevantes para as afirmações de que os polos de rotação poderiam se inverter."
Aqui, o truque dos farsantes do fim do mundo é fazer as pessoas confundirem a inversão dos polos magnéticos (fenômeno que deve ocorrer) com a inversão dos polos de rotação (que jamais ocorrerá).

4. PODERIA UMA PLANETA GIGANTE E DESCONHECIDO SE CHOCAR COM O NOSSO?
Colisões como esta estiveram no passado do Sistema Solar, mas não ocorrerão no futuro

Quem nunca ouviu falar de astros como Nibiru e Hercólubus, o famoso planeta Chupão?(eu!) Eles têm duas coisas em comum: (1) seriam capazes de destruir a vida na Terra e (2) são obras de ficção.
Na fronteira entre o esoterismo e o catastrofismo, encontramos histórias como essas. Nibiru é supostamente um planeta encontrado pelos sumérios, mas que continua invisível à nossa ciência. Hercólubus, muitas vezes chamado de planeta Chupão, seria um mundo gigante, maior que Júpter, descrito pelo indígena peruano V.M. Rabolú - o mesmo sujeito que andou falando sobre peixes em Vênus (planeta com temperatura média de 480 graus Celsius).
Todos esses mundos errantes têm um único destino: se chocar com a Terra. Há quem diga que já em 2012, outros falam em 2043, e por aí vai. Tem por onde?
"Isso não passa de invenção", diz Cássio Leandro Barbosa, astrônomo da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São Paulo. "Se houvesse um planeta, sobretudo gigante, vindo em nossa direção, poderíamos vê-lo com nossos telescópios."
Astros desse tipo se tornam facilmente identificáveis porque, se estivessem tão perto do Sistema Solar a ponto de colidir conosco num futuro próximo, teriam um movimento rápido no céu (a cada dia numa posição diferente). Isso chamaria rapidamente a atenção dos cientistas.
No passado remoto, época em que a Terra estava se formando, 4,5 bilhões de anos atrás, colisões entre planetas eram relativamente comuns: foi um choque do nosso planeta com um objeto do tamanho de Marte que produziu a Lua. Agora, entretanto, nosso sistema planetário tem muito menos "lixo" vagando por aí, e os planetas estão estáveis em sua órbita. Nenhum astro de porte planetário vai se chocar conosco, nem agora, nem em 2012 ou num futuro previsível.

5. A TRAVESSIA DO PLANO DA GALÁXIA PELO SISTEMA SOLAR PODERIA PRODUZIR O FIM DO MUNDO?
Planetas alinhados só propiciam bons espetáculos no céu

Taí uma coisa que todo mundo adora: alinhamentos celestes. Alguns anos atrás, houve certo pânico (não por parte dos cientistas, claro) de que um alinhamento planetário pudesse produzir um "puxão" gravitacional que tirasse a Terra de sua órbita. Os planetas se alinharam, formaram um espetáculo bonito de ver no céu, mas nada catastrófico ocorreu.
Agora, a nova moda é falar de um alinhamento do Sistema Solar (Terra inclusa) com o plano da Via Láctea. Nossa galáxia, como se sabe, é um disco de estrelas (cerca de 200 bilhões) em forma de espiral, com um buraco negro supermassivo em sua região central.
O temor, desta vez, é que a passagem pelo plano galáctico possa produzir alguma radiação que acabe com a vida na Terra. E, novamente, 2012 aparece como uma possível data.
Detalhe: segundo a Nasa, o Sistema Solar não vai atravessar o plano da galáxia em 2012. Aliás, é complicado dizer quando vamos passar certinho pelo meio do disco galáctico, uma vez que ele não é regular. Ou seja, esse tal plano é um conceito teórico, não uma posição que se possa atingir com precisão.
Agora, mesmo que fosse possível determinar o momento exato de passagem pelo plano galáctico, é certo que nada de tão terrível aconteceria. Afinal, o Sol completa uma volta ao redor do centro da galáxia a cada 226 milhões de anos e, a cada órbita, ele teria de passar duas vezes pelo tal plano (uma na ida, outra na volta). Entretanto, o registro geológico não mostra nada de terrível acontecendo com a Terra com essa regularidade específica.
"Aparentemente há um grande interesse nos corpos celestes e em sua localização e trajetória ao final do ano de 2012", afirma Don Yeomans, pesquisador da agência espacial americana. "Mas o que temos visto no ciberespaço, na TV e no cinema a esse respeito não é baseado em ciência."

6. HÁ ALGUM ASTERÓIDE QUE VAI COLIDIR COM NOSSO PLANETA EM 2012?
Cientistas trabalham para prever com boa antecedência os riscos de impacto

Asteroides são mesmo um perigo. Os astrônomos trabalham com afinco para mapear todos os grandes pedregulhos que vagam pelo espaço e correm risco de, futuramente, colidir conosco.
A esta altura, praticamente todos os NEOs (sigla inglesa para objetos próximos à Terra) com tamanho superior a 1 km já tiveram sua trajetória mapeada, e nenhum deles deve se chocar com nosso planeta nas próximas décadas.
O objeto mais ameaçador identificado até hoje atende pelo nome de Apófis, um pedregulho com diâmetro aproximado de 270 metros, que passará próximo à Terra em 2029 e ainda tem uma chance ridiculamente baixa (1 em 250 mil) de se chocar conosco na passagem seguinte, em 2036. Mas note que esse objeto tem dimensões que não o colocam como um potencial "destruidor da civilização". Em suma: mesmo que o pior aconteça, pode ser uma grande catástrofe, mas não o fim do mundo.
Asteroides ainda menores que ele certamente vão colidir com a Terra nos próximos anos. Em outubro de 2009, por exemplo, foi registrada na Indonésia a entrada atmosférica de um bólido com cerca de 10 metros de diâmetro. O objeto explodiu no atrito com o ar e não atingiu ninguém em solo. Esse tipo de evento, porém, não preocupa.
"É uma questão séria, mas não perco meu sono com isso", diz Willian Bottke, do Southwest Research Institute, nos Estados Unidos. "Acredita-se que um asteroide ameaçador à civilização acerte a Terra a cada 500 mil anos. Logo, as chances vão contra acontecer amanhã." Ou em 2012. Ou em qualquer data específica.
O trabalho de monitoramento desses objetos é feito por uma equipe internacional, a Spaceguard Survey, que tem a Nasa como principal integrante. As novas descobertas de astros ameaçadores à segurança da Terra podem ser encontradas em http://neo.jpl.nasa.gov/.

7. ALGUM PROCESSO DE ATIVIDADE SOLAR PODE ACABAR CONOSCO?
O Sol está numa de suas fases mais calmas desde que começou a ser monitorado pela humanidade

O funcionamento do Sol já é bastante compreendido em linhas gerais, mas detalhes de como ele opera ainda são escassos. Por exemplo, sabemos que ele tem um ciclo de 11 anos em que vai de períodos de relativa calmaria a maior atividade. Mas pouco sabemos sobre as flutuações que ocorrem entre esses ciclos.
"Atualmente o Sol está saindo de um período de baixa atividade", explica Cássio Leandro Barbosa, astrônomo da Univap. "Mas esse mínimo está sendo diferente dos outros registrados recentemente; nunca a atividade solar foi tão baixa e tão prolongada."
Atividade mais baixa significa menos manchas solares e menos chances de ejeções coronais de massa - pedaços que se desprendem do Sol na direção dos planetas. Com menos tempestades solares, os distúrbios causados por nossa estrela diminuem para a Terra.
Mas, mesmo durante um grande período de atividade solar, o risco para a vida terrestre é mínimo. Os maiores problemas são para os satélites em órbita, que podem sofrer curto-circuitos, e para as redes elétricas em solo. Uma tempestade solar pode provocar um apagão, mas não o fim do mundo.
Sabe-se, é claro, que um dia o Sol realmente acabará com a Terra. Mas isso se dará em cerca de 7 bilhões de anos, quando seu combustível estiver se esgotando. Quando isso acontecer, o Sol, hoje uma anã amarela, vai inchar e se transformar numa gigante vermelha. Sua atmosfera então engolfará os três primeiros planetas: Mercúrio, Vênus e Terra. Será, literalmente, o fim do mundo.
A chance que isso aconteça antes do prazo, no entanto, é zero. O Sol já se mostrou, ao longo de bilhões de anos, uma estrela estável e relativamente previsível. Não vai cometer nenhum ato radical.

8. O AQUECIMENTO GLOBAL LEVARÁ AO FIM DO MUNDO?
Um futuro desértico e trágico ainda está longe de se concretizar

Que ninguém se engane: abundantes evidências científicas dão conta de que a mudança climática, ocasionada pelas emissões de gases causadores do efeitos estufa pelas atividades humanas, é um fenômeno real e extremamente perigoso para o futuro da Terra.
Já se calculam prejuízos imensos decorrentes desse fenômeno, que deve alterar o nível dos mares e até mesmo devastar florestas, como a da Amazônia. Mas essas transformações acontecem lentamente. A maioria das previsões mais confiáveis trabalha com um horizonte do final do século 21 para estimar danos catastróficos.
"O aquecimento global não é uma coisa que se mede de ano para ano; a escala é de décadas", esclarece Carlos Nobre, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas espaciais (Inpe), em São José dos Campos, interior do estado de São Paulo.
Portanto, a mudança climática pode até ser terrível para o mundo, mas não no "prazo" de 2012. E mesmo para depois disso é preciso levar em contas dois fatores.
O primeiro é que os piores cenários sugerem um aumento de temperatura de até 4 graus no ano 2100. É bastante, é dramático, mas não o suficiente para acabar com a civilização.
O segundo fator (e talvez o mais importante) é a noção de que a tragédia do aquecimento global ainda pode ser totalmente evitável. Segundo os cientistas, há tempo (mas não muito) para que as nações mudem suas políticas, invistam em formas de gerar energia que não envolvam a queima de combustíveis fósseis e o acirramento do efeito estufa e, assim, evitem uma catástrofe mais aguda.
Portanto, o aquecimento global só será o fim do mundo se a humanidade quiser.

9. A CROSTA DA TERRA PODE SE DESESTABILIZAR, COMO NO FILME 2012?
O filme 2012 traz cenas divertidas a respeito disso, mas nada realistas

Essa talvez seja a mais absurda ideia de como destruir o mundo. Provavelmente por isso foi escolhida pelo diretor Roland Emmerich (famoso por explodir o planeta de diversos modos em seus filmes, como em Independence Day, que retrata uma invasão alienígena).
Não há hipótese nenhuma de a crosta terrestre sofrer um "saracoteio" desse tipo. "Na verdade, o que vemos é um processo de estabilização. Muito lento, ao longo de bilhões de anos, mas é nessa direção que está caminhando", diz Marcelo Assumpção, sismólogo da USP.
O mecanismo é simples de entender. A movimentação da crosta terrestre acontece porque há um descompasso entre a porção superior da Terra, sólida, e o manto, muito quente e, por isso, pastoso. Mas, conforme o tempo passa, o manto vai lentamente se resfriando. É um processo muito vagaroso, que provavelmente nem terá chegado ao fim antes que o Sol engula o planeta. Ou seja: embora a Terra nunca chegue a ser um planeta geologicamente morto, ela vai se acalmando cada vez mais com o passar do tempo.
E não existe fenômeno natural conhecido capaz de reverter essa tendência. Não importa quantos neutrinos a mais o Sol resolva cuspir ("desculpa" usada por Emmerich em 2012 para bagunçar com nosso planeta que não fez o menor sentido, porque nossa estrela de fato emite neutrinos, partículas minúsculas de carga neutra, mas eles não causam efeito algum em nosso mundo), ou qualquer outra coisa que possa acontecer, nada vai desestabilizar a Terra de dentro para fora.

UMA MEIA VERDADE

A grande verdade é que o mundo não tem data certa para acabar. Mas isso pode até acontecer mais cedo do que imaginamos.
Desde 1945, a humanidade detém tecnologias capazes de promover sua completa aniquilação. Mas o que talvez seja ainda mais relevante é que, de uns tempos para cá, a capacidade humana de se autodestruir crescer. E não foi pouca coisa.
"Algumas dessa ameaças já estão sobre nós; outras são conjeturais", alerta sir Martin Rees astrônomo real da Inglaterra, sem seu livro Hora final. "Populações poderiam ser aniquiladas por vírus letais 'projetados' e até podemos um dia ser ameaçados por nanomáquinas incontroláveis que se replicam de forma catastrófica, ou por computadores superinteligentes."
Muitas destas ameaças já são realidade. Em 2002, por exemplo, um grupo de cientistas americanos recriou em laboratório o vírus da poliomielite, tem por base apenas os dados do seu genoma. Por que os pesquisadores fizeram isso? Exatamente para estimular discussões, o mesmo objetivo de Martin Rees ao escrever seu livro.
"Suscita a questão sobre quem deveria decidir, e como, quanto a prosseguir com experimentos que impõem um minúsculo risco de gerar resultados absolutamente calamitosos", afirma o astrônomo britânico.
Rees cita os grandes aceleradores de partículas, como o LHC, que tentará recriar as condições do Big Bang em laboratório. É quase certo que sejam inofensivos, mas há uma possibilidade mínima de que sejam catastróficos. Quem decide o quão pequeno o risco é a ponto de ser aceitável?
Por essas e outras, ao mesmo tempo em que podemos confirmar que toda as previsões de que o mundo vai acabar em 2012 são falsas, isso não é motivo para não nos preocuparmos.
O alerta tem de ser contínuo, pois o ser humano tem esse péssimo hábito de adquirir poderes mais rápidos do que se torna sábio para administrá-los.

Matéria por: Salvador Nogueira
A revista Conhecer possui todos os direitos sobre mesma.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A internet está deixando você burro?

Reportagem longa de Agosto da revista GALILEU, mas vale à pena dar uma conferida!

Imagine uma festa badalada, repleta de gente bacana. São centenas de pessoas aparentemente descoladas, viajadas, inteligentes, abertas a novas amizades e cheias de histórias. Você seleciona uma delas e começa um diálogo. O vaivém de outras figuras igualmente interessantes é intenso. Apesar de o assunto estar divertido e envolvente, você então olha para o lado, perde o foco do indivíduo com quem dialogava, e dá início a um novo bate-papo. Não mais de 30 segundos depois, uma terceira pessoa desperta a sua atenção. Você repete a mesma ação, deixando o seu segundo interlocutor sozinho, e tenta se concentrar no novo assunto. E assim sucede-se a noite inteira. Lá pelas tantas, quando você resolve ir embora para casa, se dá conta de que não lembra o nome de nenhuma das pessoas com quem conversou. Pior ainda: sequer recorda o que falou com cada uma delas. A conclusão a que chega é que a noite foi perdida, como se não tivesse existido. E, apesar de ter conversado com muita gente, não conheceu ninguém de verdade e não lembra de nenhum assunto. A internet é mais ou menos assim. Repleta de coisas legais, informações relevantes, mas que você não consegue aproveitar como deveria pela tentadora avalanche de dados que lhe é ofertada. São janelas e mais janelas do navegador abertas, vídeos do YouTube rolando, Twitter abastecido a todo momento, MSN piscando sem parar, Facebook sendo atualizado... O que você estava fazendo mesmo?

Para se ter uma ideia da imensa quantidade de informações que atualmente temos à disposição, uma pesquisa realizada pela Global Information Center da Universidade de San Diego, nos EUA, aponta que em 2008 cada americano consumiu cerca de 34 GB de informação por dia, o que equivale a assistir a 68 longa-metragens com definição de uma televisão comum ou ler 34 mil livros de cerca de 200 páginas num período de apenas 24 horas. A pesquisa engloba desde os métodos de informação, digamos, tradicionais, como programas de TV, jornais e revistas impressos, até blogs, mensagens de celulares e jogos de videogame. De acordo com essa mesma pesquisa, o tempo que utilizamos nos informando passou de 7,4 horas, em 1960, para 11,8 horas, em 2008. É muita coisa.

Afinal, o que a web está fazendo conosco? Essa é a reflexão que o americano Nicholas Carr, um dos mais polêmicos pensadores da era digital, propõe em seu último livro, The Shallows: What Internet is Doing to Our Brains (Os rasos: o que a internet está fazendo com o nosso cérebro, ainda sem edição em português), lançado nos Estados Unidos no mês passado. “Estudos mostram que, quando estamos conectados, entramos em um ambiente que promove a leitura apressada, pensamento corrido, distraído e aprendizado superficial”, diz (leia entrevista completa nesta reportagem). Carr também é autor do best-seller A Grande Mudança, sobre as transformações sociais na era digital, e colaborador assíduo do jornal New York Times e da revista Wired, entre outras publicações. “Em resumo, ler na internet está nos deixando mais rasos e com menor capacidade de pensamento crítico”, afirma.

Foi estimulado por uma questão semelhante à de Carr que o psiquiatra Gary Small, da Universidade da Califórnia, fez, em 2008, o primeiro experimento que mostrou cérebros mudando em resposta a estímulos da internet. O pesquisador monitorou um grupo de internautas por ressonância magnética enquanto realizava buscas no Google. Descobriu que os mais experientes apresentavam uma atividade cerebral muito maior. Após o grupo de novatos ter sido colocado por uma semana para treinar as buscas na web, também passou a apresentar atividade semelhante à verificada nos experientes, o que sugere a formação de conexões neuronais. Isso não é necessariamente bom, apontou Small. A atividade aumentada se concentrou na área do cérebro associada à tomada de decisões, o que pode estar sobrecarregando nossas mentes. Faz sentido: quando lemos um texto na web, temos de decidir se clicamos ou não clicamos toda vez que aparece um link pela frente. Não se trata de uma ação bem-vinda quando se busca a compreensão de uma informação. A pesquisadora Erping Zhu, da Universidade de Michigan, notou isso quando colocou pessoas para ler o mesmo texto no computador, com e sem hiperlinks. Quanto mais hiperlinks, mais baixas foram as notas dos leitores no teste de compreensão aplicado ao fim da experiência. O estudo não foi o único. Uma revisão de 38 pesquisas sobre os efeitos dos hiperlinks, publicada em 2005 pela universidade canadense de Carleton, concluiu que a demanda crescente de tomar decisões com o hipertexto prejudicou a performance de leitura. Mais do que as interrupções por alertas de outros programas, a própria forma como o texto é apresentado na web representa um risco à compreensão.

"ESTAMOS MAIS RÁPIDOS E SUPERFICIAIS"
Um dos mais polêmicos pensadores da era digital, o americano Nicholas Carr acaba de lançar o livro The Shallows: What Internet is Doing to Our Brains, em que questiona os danos que a internet está causando em nossos cérebros. Na entrevista abaixo, conta que dá até para ler online de maneira aprofundada, mas que isso não é a regra.

* Que mudanças a internet está causando em nossa mente?
Carr:
Ela nos encoraja a avaliar vários pequenos pedaços de informação de uma maneira muito rápida, enquanto tentamos driblar uma série de interrupções e distrações. Esse modo de pensamento é importante e valioso. Mas, quando usamos a internet de maneira mais intensiva, começamos a sacrificar outros modos de pensamento, particularmente aqueles que requerem contemplação, reflexão e introspecção. E isso tem consequências. Os modos contemplativos sustentam a criatividade, empatia, profundidade emocional, e o desenvolvimento de uma personalidade única. Nós podemos ser bem eficientes e bem produtivos sem esses modos de pensamento, mas como seres humanos nos tornamos mais rasos e menos interessantes e distintos intelectualmente.

* As evidências são preocupantes?
Carr:
Mais do que eu esperava. Nossos cérebros são altamente maleáveis. Isso permite que nos adaptemos a novas circunstâncias e experiências, mas isso também pode ser algo ruim. Podemos treinar nosso cérebro para pensar de maneira rasa ou profundamente com a mesma facilidade. Estudos mostram que, quando ficamos online, entramos em um ambiente que promove a leitura apressada, pensamento distraído e aprendizado superficial. É possível pensar profundamente enquanto surfamos na web, mas não é o que a tecnologia encoraja e premia.

* Quais são as diferenças em relação à leitura de um livro tradicional, feito com papel e tinta?
Carr:
O livro impresso e a internet são o que chamo de “ferramentas da mente”, mas seria difícil de imaginar duas ferramentas mais diferentes. Como tecnologia, um livro foca nossa atenção, nos isola das várias distrações que enchem nossas vidas diárias. Um computador conectado faz o oposto. É desenhado para dispersar nossa atenção. Ele não protege a gente das distrações do ambiente; se une a elas. Ao passo em que nos movemos do mundo da página para o mundo da tela, nós estamos treinando nosso cérebro para ser rápido, mas superficial.

* Você diz que a internet é melhor compreendida como parte de uma tendência...
Carr:
As tecnologias que usamos para reunir, armazenar e dividir informação mudaram nossa formação intelectual. Mapas, relógios, livros e TV nos mudaram. E agora a internet está nos mudando. Ela abriu um novo capítulo em nossa história intelectual, mas a história está acontecendo há muito tempo.

“Assim que entro na web, começo a abrir uma janela atrás da outra. Todos os assuntos parecem me interessar, mas sinto que meu cérebro não consegue guardar tanta coisa”, diz a jornalista Lisbeth Assis, de 24 anos. “E quando o programa fecha, e eu não consegui salvar todas aquelas informações, me bate o desespero de estar perdendo algo muito importante.” A aflição de Lisbeth, que relata a confusão mental de quando está online, é consequência de a internet ser um “ecossistema de interrupção”, como descreve Cory Doctorow, co-editor do blog de cultura geek Boing Boing. Um estudo da Universidade de Glasgow, na Escócia, divulgado em 2007, mostrou que pessoas que trabalham em escritório checam seus e-mails, em média, de 30 a 40 vezes por hora (embora metade delas tenha respondido que olha apenas “mais de uma vez por hora”).

Esse habitat de mensagens instantâneas, RSS e alertas de todo o tipo nos mantém mais informados e conectados uns aos outros, mas cobra um preço. Quando paramos o que estamos fazendo para ver uma mensagem, passamos a ter mais dificuldade em memorizar — ação essencial no aprendizado. Aprender implica mudar fisicamente o nosso cérebro. A grosso modo, no momento em que tomamos contato com uma informação, produzimos uma reação cerebral que alguns cientistas classificam como “memória curta”. Sinapses (ligações entre neurônios) que já existiam são ativadas, mas isso não fica gravado automaticamente. Quando “salvamos” os dados em nossa caixola, além dessa ativação inicial, são produzidas proteínas e novas sinapses, responsáveis pela "memória longa".

Se retomamos a memória, ou seja, se lembramos, essas sinapses aumentam e se consolidam. Experimentos mostram que se, por outro lado, deixamos de retomar essa informação, as sinapses diminuem, mas ainda ficam em maior número do que eram antes. Isso indica que uma vez que você aprendeu verdadeiramente algo, o seu cérebro sofreu uma mudança física a longo prazo. A descrição desse processo de cognição rendeu ao cientista Eric Kandel o prêmio Nobel de Medicina de 2000. É ele quem avisa: é possível que o mecanismo de produção de proteínas e sinapses trave quando não conseguimos manter o foco. “Para lembrar de algo a longo prazo, você precisa prestar atenção e processar aquela informação profundamente. Nós não sabemos até que grau isso é comprometido quando usamos a internet”, diz Kandel, que também é professor da Universidade de Columbia, em Nova York, e um dos especialistas mais respeitados do mundo no assunto.

Para o guitarrista Igor Fediczko, de 24 anos, esse comprometimento já é real. Navegador voraz da web, ele diz checar e-mail “umas 200 vezes por dia” em seu iPod Touch, e ter dificuldade em manter o foco. O músico conta ter reparado que, nos últimos anos, sua memória tem sofrido perdas. “Quando o escritor José Saramago morreu, tive a ideia de escrever um post no meu blog. Mas percebi que, apesar de ter lido quatro livros dele, não lembrava nada, nenhuma passagem. Aí notei que tinha alguma coisa errada comigo.”

No caso de Igor, as interrupções constantes do seu gadget piscando com uma nova mensagem podem causar ansiedade e estresse, fatores que, de acordo com especialistas, também atrapalham o processo de cognição. Além disso, o nosso cérebro não está preparado — pelo menos ainda não — para conseguir reter conhecimento eficientemente em uma velocidade tão acelerada como a que os usuários vorazes da internet imprimem. “Se há muitas informações concorrendo para serem lidas ao mesmo tempo, ou se elas chegam muito rapidamente, fica muito mais difícil. Necessitamos de atenção para que possamos aprender”, afirma Paulo Henrique Bertolucci, professor de neurologia clínica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Já se sabe que o nosso cérebro é extremamente plástico, capaz de se moldar de acordo com as transformações culturais que ocorrem ao redor. A cada adaptação, há uma reorganização interna: sinapses ligadas a certas atividades são reforçadas enquanto outras são enfraquecidas. “Quando os livros surgiram, a oratória desapareceu. Em cada ponto, quando você ganha algo, perde algo. A questão é: os ganhos superam as perdas? Meu palpite é que sim”, diz Kandel, que confia que a imensa quantidade de informação na rede representa um ganho gigantesco para a humanidade.

Esse não é o palpite de outro respeitado neurocientista e Ph.D. em fisiologia, Michael Merzenich, pioneiro nos Estados Unidos em estudos de como o cérebro se remodela por conta de estímulos externos. “Se eu tento resolver qualquer problema por basicamente olhar sua resposta, isso é algo muito diferente do que tentar resolvê-lo usando a inteligência e o raciocínio”, diz. É o que acontece, por exemplo, quando procuramos uma resposta no Google antes mesmo de refletirmos sobre a pergunta. “Certamente envolve uma manipulação de informação muito mais suave no uso de suas habilidades cognitivas”, afirma.

O uso “mais suave” do cérebro pode “destreiná-lo” em atividades relacionadas, fundamentalmente, à inteligência. É isso o que argumenta um artigo publicado no ano passado na revista Science pela psicóloga americana Patricia Greenfield, da Universidade da Califórnia, que analisa 52 estudos sobre o aumento do uso da internet, do videogame e da TV. Patricia, pesquisadora da área há 15 anos, conclui que as novas mídias trouxeram um desenvolvimento sofisticado de habilidades visuais-espaciais. Mas, ao mesmo tempo, reduziram a capacidade de lidarmos com vocabulário abstrato, reflexão, pensamento crítico e imaginação. Nas pesquisas, jogadores de videogame e internautas mostraram mais habilidade para lidar com várias tarefas ao mesmo tempo. Só que essas tarefas, alerta a autora, eram sempre executadas de maneira menos eficiente do que se fossem feitas separadamente. “Enquanto encorajar a multitarefa, a internet estará nos deixando menos inteligentes”, afirma. A forma de contra-atacar essa superficialidade seria passar mais tempo lendo livros e revistas, aconselha Patricia, que tem dois filhos e sugere aos pais administrar uma “dieta” balanceada dessas novas mídias para as suas crianças.

“Ligo o computador, vou direto à internet e abro umas cinco janelas. Enquanto isso já vou colocando uma senha atrás da outra, abro mais abas, ligo o MSN, resolvo postar algo novo no meu blog. É sempre assim. Não consigo fazer uma coisa só, abrir uma única página e ficar lendo com calma”, afirma a professora de francês Eleonora Ribeiro, de 25 anos. Recém-formada em Letras, Eleonora cultiva, além da intensa atividade digital, um grande hábito de leitura em papel. Quando lê livros, no entanto, a professora diz que nada tira a sua atenção. “Aí eu não disperso.”

Ainda não, mas pode começar em breve. Estudos recentes mostram indícios de que pessoas excessivamente multitarefa na internet podem levar essa desatenção para atividades offline. Um desses estudos foi feito pelo pesquisador Eyal Ophir, da Universidade de Stanford, publicado em 2009 no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences. Nos experimentos foram separados grupos de voluntários entre “muito multitarefa” (que relataram fazer inúmeras atividades ao mesmo tempo) e “pouco multitarefa”. Ambos participaram de um teste em que eram mostradas rapidamente imagens com retângulos vermelhos e azuis. Logo depois, uma imagem semelhante aparecia na tela do computador e os voluntários tinham de responder se os retângulos vermelhos haviam se movido. Os “mais multitarefa” se saíram significativamente pior. Eles tiveram mais dificuldade em filtrar informações irrelevantes (os retângulos azuis) e ficaram mais suscetíveis a guardar estímulos sem importância na memória. Mais ou menos o que acontece todos os dias conosco ao nos conectarmos na rede, quando muitas vezes deixamos de lado atividades essenciais para nos distrairmos com a janelinha do MSN piscando. “Nós podemos estar nos tornando meros decodificadores de informação, sem capacidade para decidir o que é de fato importante”, diz Carr.

Essa também é uma preocupação do psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, que coordena o Centro de Estudos de Dependência de Internet, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. “Os jovens que usam muito a web têm uma rapidez muito maior, só que isso não quer dizer que eles tenham habilidades mais profundas. Conseguem fazer várias tarefas ao mesmo tempo, mas a gente entende que essas características acabam ficando mais rasas”, afirma Nabuco, que lida há mais de quatro anos com distúrbios de comportamento ligados à web.


“A WEB ESTÁ CRIANDO A GERAÇÃO MAIS INTELIGENTE DE TODAS”
Don Tapscott, autor de Wikinomics diz que hoje em dia o que conta não é o que você sabe, mas o que pode aprender.

Você não precisa temer a internet. A mente da geração digital parece ser incrivelmente flexível, adaptável e ter um profundo conhecimento de mídia. A imersão em um ambiente digital e interativo fará as pessoas mais inteligentes do que a média dos sedentários que passam o tempo todo assistindo TV no sofá. Em vez de simplesmente receberem as informações, eles interagem. Em vez de apenas acreditarem que um anunciante na TV está falando a verdade, avaliam minuciosamente a mistura de fatos contraditórios ou ambíguos. A internet deu a oportunidade de tornar essa geração a mais inteligente da história.

O que conta não é mais o que você sabe: é o que você pode aprender. Hoje, o importante é processar as informações novas o mais rápido possível. Nós estamos na era da informação, onde, à medida que os empregos mudam, você não pode enviar seus empregados para outro treinamento. Nós precisamos aprender constantemente, pelo resto das nossas vidas.

Esse novo mundo permite que trabalhemos unidos como uma mente só, qualificada para resolver nossos problemas. Agora, os cientistas podem acelerar suas pesquisas ao abrir suas informações e métodos possibilitando que colegas experientes do mundo inteiro colaborem. Médicos podem ajudar comunidades de pacientes onde pessoas com problemas de saúde semelhantes dividem informações, fornecem auxílio mútuo e contribuem para a pesquisa.

Nós entramos numa era de contribuição. Milhões colaboraram com a Wikipedia, e milhares em iniciativas como o Linux e o Projeto Genoma Humano (PGH). Há agora uma oportunidade histórica. Afinal, o potencial para novos modelos de colaboração não termina com a produção de software, mídia e entretenimento. Por que nosso governo, nosso sistema educacional, de saúde, de pesquisas científicas e a produção de energia não têm um “código aberto”? São oportunidades reais e palpáveis, não fantasias.

Vivemos um tempo excitante, onde todos podem participar na produção de informação de maneira que antes era impossível. Para os governos e sociedade como um todo, as evidências mostram que nós podemos armazenar a explosão de conhecimento, colaboração e inovação de negócios para liderarmos vidas mais ricas e cheias, e estimularmos a prosperidade e o desenvolvimento.

(Don Tapscott é consultor de empresas como general electric e autor dos livros wikinomics e a hora da geração digital, entre outros. ele já conseguiu us$ 4 milhões para investir em pesquisas sobre a “geração net”)

Não há quem diga — nem mesmo Carr, blogueiro e grande frequentador da rede — que a internet em si é o problema. A grande preocupação é o que ela tornou possível: fazer muitas coisas simultaneamente e receber uma quantidade de estímulos nunca antes experimentada. “Não há de se demonizar a web. Se minha filha de sete anos tenta fazer o dever de casa ao mesmo tempo em que assiste à televisão, ela não vai conseguir”, diz o neurocientista Martin Cammarota, do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Se a informação for canalizada de forma adequada, defende Cammarota, não temos com o que nos preocupar.

A questão é como fazer essa canalização. A dificuldade em lidar com a multiplicidade de estímulos vem no momento histórico em que temos mais acesso à informação, seja pela televisão, pelo smartphone ou pelo laptop. “Se você usa gadgets o tempo inteiro, sua mente passa a ficar sobrecarregada. A questão é: como tirar o máximo de proveito desses aparelhos sem ser prejudicado por eles? Devemos desenvolver um método para nos desconectarmos de vez em quando”, diz o escritor e historiador americano William Powers, que acaba de lançar o livro Hamlet’s BlackBerry (O BlackBerry de Hamlet, ainda sem edição em português), em que discorre sobre como lidar de forma saudável com a tecnologia.

5 DICAS PARA VOCÊ DESINTOXICAR DA WEB
Aprenda agora como conciliar vida online e offline e ter uma existência digital mais balanceada

Daniel das Neves
1. E-mail e Twitter têm hora certa
Prefira acumular as mensagens e destinar um certo horário do dia para vê-las. Um estudo da Universidade de Glasgow mostrou que ficar se interrompendo para ver a caixa de entrada, além de causar estresse, faz a produtividade cair
Daniel das Neves
2. Arranque as distrações da tela
Links e imagens clicáveis em volta de uma notícia estão entre as coisas que mais distraem a leitura. Livre-se deles usando programas online como o Readability (
http://lab.arc90.com/experiments/readability/) que, em um clique, deixa na tela só o que você precisa: o texto
Daniel das Neves
3. Vá dar uma volta no parque
Pesquisadores constataram que pessoas que dão uma caminhada em ambientes arborizados se saem melhores em testes cognitivos. Se não puder, um tempo olhando para uma foto de uma tranquila cena rural traz efeito semelhante

Daniel das Neves
4. Não deixe os livros de lado
Para que o cérebro não enfraqueça em aspectos como imaginação e capacidade de reflexão, a psicóloga Patrícia Greenfield recomenda que a internet não seja o único meio de se informar. Livros e rádio estimulam partes do cérebro que a web normalmente não consegue

Daniel das Neves
5. Desconecte-se de vez em quando
Na casa do escritor William Powers, não há internet nos finais de semana. Para escapar de efeitos nocivos da web, o especialista diz que é bom definir horas ou dias da semana em que o cérebro possa relaxar do efeito viciante da vida digital

Embora o desempenho de muitas tarefas simultâneas possa colocar em risco métodos tradicionais de reflexão, outras maneiras de aproveitar a web estão trazendo novas formas de inteligência à sociedade. Clay Shirky, professor de comunicação interativa na Universidade de Nova York, mapeou algumas das mais importantes iniciativas na área em seu recém-lançado livro Cognitive Surplus (Excedente cognitivo, ainda sem edição no Brasil).

Em uma conta realizada com a ajuda do pesquisador da IBM Martin Wattenberg, Shirky estimou o esforço envolvido na produção dos cerca de 10 milhões de verbetes presentes na Wikipedia, até 2008, em 100 milhões de horas de pensamento humano. Embora pareça ser muito, só os americanos, no mesmo ano, ficaram 200 bilhões de horas assistindo TV (com esse tempo daria para criar 2 mil Wikipedias). “Em vez de as pessoas gastarem o seu tempo livre passivamente em frente à televisão, elas estão atuando de maneira colaborativa, contribuindo para que o conhecimento se espalhe”, diz Shirky em seu livro.

O problema da linha de pensamento de Shirky é que, embora o tempo gasto na internet aumente ano a ano, o tempo em frente à TV também cresce. Isso significa que as pessoas estão, cada vez mais, fazendo as duas coisas ao mesmo tempo — o que contribui para aumentar a multitarefa.

Fazer muitas coisas ao mesmo tempo nem sempre é ruim, e está longe de ser novidade para o ser humano. Para sobreviver, o homem primitivo precisava mudar de foco o tempo todo, o que reduzia a chance de ser pego de surpresa por um predador ou de que uma oportunidade de caça passasse despercebida. Conforme foram sendo criadas, as tecnologias liberaram o homem dessa multitarefa, o que resultou em mais tempo livre para se desenvolver em atividades que poderiam consumir mais da sua atenção. “Só que, com a aceleração tecnológica, a possibilidade de fazer mais coisas em um tempo menor virou necessidade novamente. Você passa a não existir socialmente sem a rapidez e a multiplicidade de informações e contatos. Estar conectado a várias pessoas ao mesmo tempo pode significar um emprego, por exemplo. Se antes ser multitarefa significava sobrevivência física, agora pode significar a sobrevivência social”, afirma Jonatas Dornelles, doutor em Antropologia Cultural pela UFRGS, que estuda cibercultura há 11 anos.

A sobrevivência multitarefa em um contexto diferenciado pode estar criando um outro tipo de inteligência, argumenta Dornelles. Exemplo desse novo tempo é Gustavo Jreige, gerente de criação da empresa de comunicação Polvora!, em São Paulo. Aos 13 anos, ele ficava 15 horas por dia no computador. Hoje, aos 21, passa o tempo todo conectado e acredita que não conseguiria viver sem ser multitarefa. Assim como o músico Igor, ele também sente revezes na memória, mas não se incomoda com isso: “Para que eu preciso lembrar de certas coisas se posso fazer uma pesquisa e encontrar muito mais do que eu supostamente já deveria saber?”. Gustavo sintetiza a forma de pensar da geração que está conectada desde a infância. “Já não é o que você sabe que conta, é o que você pode aprender. No mundo de hoje, o mais importante é ter habilidade para processar a informação na velocidade da luz”, diz o executivo Don Tapscott, autor do livro Wikinomics (leia artigo do autor nesta reportagem). O canadense liderou uma pesquisa de US$ 4 milhões que analisou, em 2008, os hábitos de 11 mil pessoas entre 11 e 30 anos, grupo que ele convencionou chamar de “geração net”.

Tapscott afirma que a web está fazendo com que essa geração seja a mais inteligente de todas, baseado em testes que mostram aumento de quociente de inteligência (QI). No entanto, a média de QI das pessoas cresce em ritmo estável desde antes da Segunda Guerra. Ou seja, não é o efeito da propagação da internet que está causando isso. Essa nova inteligência se mostra de outras formas, como prova Gustavo. Em 2006, então com 17 anos, ele reuniu jovens do Brasil pela internet para entrevistar candidatos à eleição presidencial. Aos 18, escrevia reportagens de tecnologia no jornal O Estado de S. Paulo. “No dia a dia eu lido com mais de dez clientes e projetos diferentes. Não preciso estar 100% focado em alguma coisa para conseguir dar conta dela.”

O prêmio Nobel de Medicina Eric Kandel diz que há, sim, risco de que uma mudança de comportamento em direção à multitarefa possa trazer consequências ruins aos nossos cérebros. Entretanto, ele vê mais motivos para sermos otimistas frente à revolução digital. “É incrível que crianças pobres que não têm acesso a bibliotecas e a livros estejam mais perto disso tudo com a internet. Eu posso conseguir referências imediatas a qualquer artigo de jornal nos últimos 20 anos e a livros em poucos segundos”, diz.

E quanto a não guardar mais tantas informações e deixar o Google se transformar em nossa memória, não se trata de algo perigoso? Kandel filosofa: “Quem disse que a memória é tão maravilhosa se você não tem nenhum uso para ela? Não é a memória em si que é tão bonita. É a recitação dela, a sensualidade, o prazer em revisitá-la”.

Texto por: Felipe Pontes e Tiago Mali

A revista GALILEU tem todos os direitos da matéria.

sábado, 17 de julho de 2010

O que é sinestesia?

Outro dia estava lendo a revista Mundo Estranho e achei uma matéria muito interessante que, até então, se não desconhecia, a menos não sabia tão a fundo. Confira!

Sinestesia é um distúrbio neurológico que faz com que o estímulo de um sentido cause reações em outro, criando uma salada sensorial entre visão, olfato, audição,paladar e tato. Por exemplo, para um sinesteta, o número 5 pode ser sempre verde, a segunda-feira ter gosto adocicado e um solo de guitarra produzir imagens de bolhas fosforescentes! A maioria das pessoas recebe os estímulos externos e os processa em paralelo no cérebro: um objeto visto segue uma rota específica até o córtex visual; os sons fazem seu próprio caminho até chegar ao córtex auditivo; e assim por diante. Porém, no cérebro dos sinestetas, essas trilhas se cruzam, gerando a maior mistureba no processamento da informação. "Esse é um processo cerebral involuntário", diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Já foram catalogados 61 tipos de sinestesia, mas as causas ainda são desconhecidas. Sabe-se apenas que a genética tem influência. "A sinestesia é comum em algumas famílias e está relacionada a pelo menos três cromossomos", diz a psicóloga britânica Julia Simner, da Universidade de Edimburgo, na Escócia. Essa confusão entre os sentidos também pode rolar por outros motivos, como nas alucinações pelo uso de drogas. Mas, nesses casos, a mistureba é aleatória, enquanto que, para um sinesteta, um nome roxo sempre será roxo.

Agora confira como rola a mistureba sensorial no cérebro de um sinesteta

Emoções cheirosas
O cruzamento entre os receptores olfativos do sistema nervoso central e o sistema límbico, que regula as emoções, faz com que, por exemplo, o cheiro de rosas deixe o sinesteta irritado ou vice-versa, que uma pessoa irritada sinta cheiro de rosas

Sabores com temperatura
Não se trata de comida quente ou fria, mas de duas sensações diferentes se misturando no sistema nervoso central. E aí o gosto de vinho pode provocar a mesma sensação de frio que uma ventania, por exemplo

Cheiros barulhentos
Por causa da confusão entre o córtex auditivo e os receptores olfativos, um perfume pode fazer a pessoa literalmente ouvir coisas. Pior ainda no caso dos cheiros ruins: além de ter que aguentar o fedor, a pessoa ouve uma barulheira junto...

Sons coloridos
Em vez de ir direto ao córtex auditivo, os ruídos dão uma passada pelo córtex visual. Resultado: uma nota musical fica parecendo uma bola colorida

Nomes com personalidade
Outro tipo recorrente. A combinação das letras ou dos sons que formam um determinado nome interfere no sistema límbico. A pessoa passa a achar que todo José é confiável, ou que as sextas-feiras são deprimentes (não sou sinesteta, mas segundas-feiras são deprimentes!)

Números e letras com cor
É um dos tipos mais comuns de sinestesia. Rola dentro do córtex visual: no lugar de processar apenas o sinal escrito, com a cor com que ele foi impresso, o cérebro o relaciona com outras cores específicas

Sentidos criativos
Conheça a galeria dos sinestetas mais famosos do mundo

Richard Feynman (1918-1988)
O físico americano, ganhador do Nobel de 1965, dizia ver letras e números coloridos. Enquanto dava aulas, ele via letras xis marrom-escuras flutuando no ar









Wassily Kandinsky (1866-1944)
Tudo indica que o pintor russo misturava quatro sentidos: visão, audição, olfato e tato. Ele chegava até a cantar os tons de cores que pretendia usar na paleta









Eddie van Halen (1955-)
O guitarrista americano, fundador da banda Van Halen, usou o dom de ver notas musicais coloridas para criar a "nota marrom", usada em discos da banda









Vladimir Nabokov (1899-1977)
Quando criança, o autor russo reclamava que as cores de seu alfabeto de madeira estavam erradas. Criou vários personagens sinestetas